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Mar de devaneios

Perdida no oceano de pensamentos, encontrei-me a mim e o que queria ser.

Perdida no oceano de pensamentos, encontrei-me a mim e o que queria ser.

27
Jun23

Crónicas sobre ansiedade


Effy_Edwards

Sempre pensei que tinha atingido o cume da ansiedade na faculdade. Era trabalho, estágio e mestrado. Era uma loucura sem fim. Eram fim de semanas fechada num centro comercial a trabalhar no meu part-time e muitas vezes durante a semana, entre trabalho e estágio, trabalhava das 7h às 23h e ainda tinha que estudar, fazer trabalhos ou, mais tarde, escrever a tese. Era puxado, e por vezes a ansiedade batia-me à porta. De tal forma que me imobilizada. Nunca mais esqueço da primeira vez que isso me aconteceu, estava num shopping e tinha planeado ir ao cinema com o meu namorado e depois fazer um trabalho ou estudar. Tinha tudo planeado na minha cabeça. Contudo houve um problema e tivemos que ir à sessão seguinte. Em vez de cancelar, teimei que queria ir e de repente estava imóvel. A ansiedade de saber que estava a perder tempo era tão grande que de repente não conseguia reagir. Isso foi há cerca de uns 3/4 anos. Pensei, honestamente, que isso seria o pior. Mas como já devem calcular não foi. 

Passado uns 2 anos, estava num bom trabalho, mas sem muitas perspectivas de crescimento, no ramo da logística. Era stress constante, eram deadlines para cumprir e muitas urgências que tinham que ser resolvidas durante férias, ou depois do horário de saída. Eu adorava o que fazia e a minha equipa, mas a minha ansiedade andava a tramar as dela. Adorava conduzir. Adorava andar de um lado para o outro, a ouvir música e a cantar. Até que tive um acidente de carro. Apanhei óleo na estrada e estraguei a frente do carro. Não foi nada de especial, mas durante mais de um ano não consegui conduzir normalmente. Ainda hoje, se estiver muito stressada, ou cansada, custa-me conduzir. O meu cérebro pensa constantemente que vou morrer. Que vou perder a visão, os sentidos e ter um novo acidente. Contudo, como devem calcular, isso também não foi o pior. Entre ataques de pânicos pontuais, conduzir a 70km/h numa auto estrada e procurar apoio psicológico as coisas foram melhorando. 

Este ano, a ansiedade decidiu aparecer de mansinho, como quem não quer a coisa. Desta vez com as piores torturas de sempre. Decidiu lembrar-me que eu já devia ter dinheiro para a entrada de uma casa, e tenho que o fazer agora. Decidiu culpar-me de todas as decisões e mais algumas, e espetar-me um punhal no peito sempre que penso nisso. Dói, muito. Além disso, gosta de me lembrar que todos os cêntimos contam. Tudo conta. “Devias estar a fazer dinheiro em vez de estar a ver uma série”, “Devias estar a ver casas em vez de estares aqui”. Entretanto fico em modo batata a ver reels no instagram, ou então vou trabalhar. O meu porto de abrigo é o meu trabalho. É quando me sinto útil e realizada. Entretanto um novo trabalho, em que adoro o faço, mas também tem momentos difíceis. Desta vez não são urgências, mas situações ingratas entre colegas, situações que mexem comigo a nível psicológico, mas que honestamente tento ignorar. Um destes dias estava num táxi para o aeroporto e pensei que ia morrer, a ansiedade era tanta que eu pensei que ia desmaiar e morrer. Sei que parece ridiculo e eu sabia que aquilo era ansiedade, mas o meu peito ardia com a dor e a falta de ar. É algo surreal. O taxista conduzia mal e eu estava muito longe de casa, contudo não era razão para tal. No outro dia estava a trabalhar, e o assunto das casas passou-me pela cabeça e o meu coração começou acelerar, como se estivesse a correr a maratona. Há dias que nem me passa nada pela cabeça, mas a vontade de fugir e chorar é tanta que só não o faço porque me refugio a ver coisas aleatórias na internet. Há dias que nem falar direito consigo, de tão modo batata me encontro. Contudo hoje consegui escrever, e já me sinto feliz por isso. 

Inocente era eu quando pensei que a ansiedade ia ficar por ali... 

28
Dez22

Coabitar


Effy_Edwards

Escrevo para não entrar em ebolição. Escrevo para desanuviar. Adoro a minha mãe e reconheço tudo que fez e faz por mim, mas não ando aguentar. 

Tenho estado de férias, e por isso tenho passado mais tempo com a minha mãe.  E tem sido dificil. Tenho que parar muitas vezes mentalmente e respirar fundo. Tudo me enerva. A forma como ela se chateia comigo por dizer "cuidado" porque parecia que um carro nos ia bater, a forma como pede "se não te custar muito podes (...)?". Fala alta no cinema, comenta os filmes, chateia-se com todos os carros a conduzir (buzina, dá sinais de luzes). Coisas que achava piada quando era mais pequena agora só me irritam. Não nos entendemos com as lidas da casa. Para ela faço tudo mal e mais valia estar quieta. 

Há coisas que somos completamente diferentes, outras que me revejo cada vez mais nela. Contudo, começo a entender que o tipo de relação que ela quer ter comigo não faz sentido. Ela espera de mim às vezes uma amiga e eu não lhe consigo dar isso da mesma forma, e faz-me sentir mal. Agradeço a abertura que sempre teve comigo, e a forma como me sempre me explicou e fez ver o mundo. Mas não é justo que espere o mesmo que uma amizade. Eu reservo tempo com ela, para irmos ao cinema, jantar, almoçar, entre outros. Mas dói-me na alma quando ela me diz  que não lhe dedico tempo. Faz-me sentir mal e como se não tivesse a cumprir o meu papel. 

Não tenho um dedo apontar em relação a muitos outros assuntos. Mas estas pequenas coisas tiram-me do sério. E fico a reflectir. Será que me vai acontecer isso quando viver com o meu namorado? É possivel cansar de viver com alguém? Ou é algo completamente diferente? 

É nestes momentos que os meus objectivos se atropelam todos e o objectivo de "sair de casa" acelera a fundo e atropela tudo e todos. 

12
Dez22

Adolescência outra vez não


Effy_Edwards

Há dias que me sinto uma verdadeira adolescente. Tantas sensações novas que não consigo expressar ou entender. Há dias em que realmente é dificil ser profissional, pois há tantos factores externos ou internos que me afectam. E o pior é não conseguir falar disto com ninguém. Porque sei o que vão dizer. 

Estou a tentar o meu melhor, juro que estou. Mas sinto que não é suficiente. O trabalho está acumular e o entulho na minha cabeça igualmente. Todos os dias acordo e penso que vou colocar isso de lado, mas todos os dias me vejo a ficar mais embrulhada num monte de decisões que de alguma forma tomei, mas não conscientemente. 

E de certa forma, sempre que saio da rotina e volto a casa, ou sempre que paro só fica tudo pior. A sensação não abranda, de todo. É muito barulho, é muita confusão e não consigo pensar. 

Sinto-me ansiosa e honestamente perdida. Faz-me lembrar quando tinha 16 anos. A única diferença é que na altura não tinha responsabilidades, e agora tenho. 

04
Dez22

A ilusão das expectativas


Effy_Edwards

É oficial, declaro domingos à noite como a altura mais triste e melancólica da minha semana. É a altura em que reflicto sobre o que aconteceu e no que vou fazer. É o momento em que coloco tudo na mesa e deixo a minha alma despida, a ser julgada. Isso acontece noutro dias e noutras alturas, mas essencialmente ao domingo à noite. 

Esta semana, o tópico é o trabalho. Tive uma viagem pela empresa, e correu muito melhor do que eu esperava. As pessoas eram mega simpáticas, divertidas e no meio de tudo recebi elogios e só palavras de incentivo pelo meu trabalho. E agora estou com medo, muito medo, de não conseguir corresponder às expectativas dos meus colegas. Muito medo de errar, e de fazer algo errado. Não, não foi um engano, quis usar efectivamente a palavra "errar" e "errado" para demonstrar o medo que eu tenho de não corresponder à imagem que criaram de mim. 

Sou uma pessoa que fico facilmente motivada, mas acho que ainda tenho muito que crescer. Tenho ainda muito que aprender e há ainda muitas capacidades que tenho que desenvolver. Uma delas é aprender a ponderar e controlar-me, pois por norma fico tão motivada com novos projectos que não consigo raciocinar se tenho capacidades para os fazer ou não. Quando estou no pico da montanha tudo me parece possivel. 

Quando estou em estado de euforia, tudo me parece tao diferente. A vida tem outra cor, e as minhas expectativas são super irracionais. Diria que é perigoso, mas é algo fora do meu controle. Torno-me um carro desgovernado, a descer uma colina. Honestamente, antes do acidente que tive, quando conduzia rápido, a sensação era a mesma. Era uma adrenalina assustadora, mas que no final se tornava em serotonina. É assustador mas recompensador ao mesmo tempo. 

Por isso aqui estou, depois de ter escrito três páginas de reflexão, a fazer uma última, global. Estou nervosa, inquieta e é para mim um dos piores sentimentos. Odeio sentir que estou a perder o controle e que não consigo controlar o que vai acontecer a seguir. 

Mas na realidade o único controle que eu tenho é nas minhas ações, e em garantir que faço o meu melhor. Por isso, seja o que for, um dia de cada vez, sempre a tentar o meu melhor.

Boa semana a todos. 

03
Dez22

Vim só de passagem desabafar


Effy_Edwards

Comecei a escrever um post sobre obsessões e de como facilmente fico obcecada por novas sensações. Depois comecei a escrever um post sobre a sensação de voltar à realidade e de quão doloroso isso é. Talvez das piores sensações de sempre. Pergunto-me se nasci para viver sempre na minha realidade, ou se deveria mudar. Mas se mudar de realidade não passaria a ser a minha realidade? Será que toda a gente se sente assim? 

A sensação de voltar a casa depois de uma longa viagem, não é, nem nunca foi bom para mim. É uma sensação que a magia acabou, que o que aconteceu jamais acontecerá daquela forma. 

Entretanto os meus pensamentos entrelaçam-se todos num só e ando em picos de felicidade ou de tristeza. E pergunto-me se toda a gente se sente assim, ou se sou só eu. 

Adoro sair da minha zona de conforto, adoro conhecer pessoas novas, projectos, sitios. Mas depois a tristeza que me assombra quando volto à minha realidade é tão grande, que não consigo lidar. 

Tentei escrever este texto de imensas formas diferentes, mas o texto não sai coerente, porque nem eu própria entendo esta faceta minha. É como uma droga que me vicia, e só quero mais e mais. 

16
Out22

O copo meio cheio


Effy_Edwards

Esta semana foi engraçada, um misto de altos e baixos. Começou com a visita de uma amiga estrangeira que não via há quase 5 anos. As energias que ela me trouxe foram incriveis. A sensação de estar no topo do mundo, de ter um mar de possibilidades pela minha frente. Na memórias dela eu era uma pessoa completamente diferente do que sou agora. Na verdade ainda sou essa pessoa, mas perdi-me no meio das responsabilidades, dos problemas monetários e de tudo que achava que deveria fazer. Foi bom acordar essa Effy adormecida, foi bom voltar a ter energia sem ter fim, o que me levou a escrever sobre as pessoas e as suas energias. No meio da reflexão perguntei-me se estaria no lugar certo, se é normal sentir um cansaço diário, uma dormência mental, e de um momento para o outro, graças a uma simples pessoa, ser eu outra vez. Será que estou à volta das pessoas certas? Será que as pessoas me sugam as energias porque querem tanto que eu seja algo que eu não sou? 

Nisso, a meio da semana começou outra reflexão, depois do stress do trabalho e uma chapada de realidade. Posso-vos dizer que esta semana foi tão intensa que nem tempo tive para almoçar, no meio de problemas e reuniões. Nisso tudo começou a minha segunda reflexão, o que é que esta Effy tem que a outra não tem, ou o que a outra Effy tem que esta não tem. 

Antes de tudo a outra Effy tinha menos 5 anos. Era jovem, lutadora, e foi sozinha para um país novo e fez amizades com pessoas desconhecidas. Ela tinha a liberdade de ser quem quisesse. Não estava presa ao preconceito das pessoas que a conheciam há anos, nem as expectativas dos pais, dos amigos ou do namorado. Ela podia ser quem quisesse, porque nunca teria que se importar com o choque das duas realidades. Só aí já temos uma vantagem. A ausência de toda a interferência do mundo exterior. Um mundo só dela, em que ela podia ser quem quisesse e podia simplesmente gerir tudo como queria. Essa Effy voltou para Portugal, e cresceu muito. Concluiu os estudos e começou a trabalhar. Ganhou novos objectivos. Essa Effy passou por um burnout, um acidente de carro (não grave) que lhe aumentou os niveis de ansiedade e problemas monetários. Essa Effy nunca será a mesma Effy de há 5 anos atrás. Mas o que cheguei à conclusão é que não é uma coisa má. Na realidade é uma coisa boa. A Effy de hoje tem ferramentas que eu nunca teria antes. Tem mais motivos para lutar, objectivos diferentes. A Effy de hoje só se esqueceu de como deveria fazer. Esqueceu-se da disciplina que tinha antes e de quanto teve que lutar para chegar onde deveria. E o mais importante de tudo é que essa Effy nunca mas nunca sentiu frustração nem inveja. Essa Effy sabia que tinha que lutar mais que os outros, sabia que tinha que trabalhar aos fim de semanas, que tinha que dar mais que os outros, mas nunca se sentiu menos por isso. Algo que a Effy atual se esqueceu. Não é que sentisse inveja, mas sentia rancor, frustração. Comecei a ver o copo meio vazio, comecei a perguntar-me o que eu fiz para merecer isso, o que eu tenho menos que os outros. Porque é que eu lutei tanto e nunca alcancei nada. E, na realidade esqueci-me de olhar à minha volta. Esqueci-me de reparar o quanto eu alcancei e o quanto ainda tenho para conquistar. E principalmente o quanto eu tenho de agradecer. 

E assim, voltei a ver o copo meio cheio. 

 

05
Out22

Será a frustração o novo síndrome do jovem do século XXI?


Effy_Edwards

Já perdi a conta de quantos textos iniciei e deixei a meio. Já perdi a conta de quantos rascunhos tinha no meu bloco de notas, e de quantas vezes pensei em pedir ajuda. Já perdi a conta de quantas vezes comecei a falar e disse "sei que é estupidez da minha cabeça". Já perdi a conta de quantas vezes me disseram "Não podes pensar assim". Já perdi a conta de quantas vezes sucumbi ao vicio do tabaco e fumei "mais um", sendo que já não sou fumadora activa. Já perdi as vezes que comecei a rir e desatei a chorar, num misto de emoções. Honestamente, sinto-me a descarrilar. E o problema é que me está a empactar no trabalho, onde eu tinha e tenho mais brio e orgulho. A ideia que eu tenho é que a Effy que as pessoas vêem no trabalho é uma Effy acelerada, desorganizada, faminta para fazer tudo e mais alguma coisa, que acaba por ser perder no meio de tanta coisa. Basicamente não consigo ter calma. Não consigo parar e ponderar, porque se o fizer os pensamentos consomem-me. 

É um misto de vergonha, de orgulho ferido e de tudo e mais alguma coisa. Sinto-me uma barata tonta, uma traça à procura de luz que se esbarra contra a janela, vezes e vezes sem conta. Só me sinto bem quando não estou cá mentalmente, ou seja, estou embriagada por alguma coisa, trabalho, álcool, amor, amigos ou séries. Quando estou sozinha com o meu cérebro as coisas descarrilam. É algo tão forte que me consome por dentro, aos poucos. Se me perguntarem-me o que eu sinto, acho que eu nem própria entendo, é uma tremenda ansiedade e frustração. É a sensação de chegar ao fim do arco-íris e não encontrar o pote de ouro, é a sensação de sentir que os teus planos de vida falharam e que não sabes, nem consegues formular novos, porque só há um arco-íris. E agora? Vive-se sem plano? Espera-se até ser possivel? E será que vai ser possível? Quando é que vai acontecer? 

Há dias que tento lutar contra isso, outros que simplesmente aceito e fico prostrada a ver séries sem pensar em mais nada. Há dias que parecem que vão ser horriveis e entre o trabalho e as reuniões as coisas melhoram. 

E o pior de tudo, é que não vejo saída deste labirinto infernal. O dinheiro não chega para sair de casa, a vida amorosa e o trabalho não permitem ir viver para outro país e eu não consigo me conformar com a situação. Mas depois lá vem a vergonha a berrar na minha cabeça : " Há pessoas tão piores que tu, devias ter vergonha". E assim têm sido os meus dias. 

07
Set22

Dependência emocional


Effy_Edwards

O amor faz-nos fracos?

Romance talvez seja o meu tema preferido de todas as histórias. Romance leva a actos gigantescos assim como desastres colossais. Adoro ver histórias de romance, adoro sentir as borboletas no estomâgo quando sinto que os protagonistas estão na face inicial da relação. Adoro aquele vai e não vai, aquela tensão no ar e acompanhar a evolução de uma relação. Honestamente gosto de pensar no romance como o enredo principal das nossas vidas. 

Contudo, nunca defendi que isso seria o que queria para a minha vida. Sempre fui apologista de relações com peso e medida, em que não há uma dependência emocional. Somos dois seres diferentes com dois objectivos diferentes, que decidiram ficar juntos. Reconheço que haverá sempre sacrificios que poderão ter que ser feitos, mas não concordo em sacrificar uma carreira profissional por um homem ou uma mulher só porque sim. Honestamente não quero, nem vou entrar em detalhes do que é o amor, porque é um tema complicado. O ponto onde eu quero chegar é a dependência emocional, é sentir que não somos bons sem aquela pessoa na nossa vida. É fechar-nos completamente num mundo só com aquela pessoa, pois já não precisamos de mais nada. É dar poder aquela pessoa sobre nós. É ficarmos submissos. 

Curiosamente, apesar de viver um vida que diria independente, em que tenho outras prioridades e outros prazeres, sou cativa desse fenómeno sempre que passo mais do que dois dias seguidos com o meu namorado num ambiente diferente. É uma sensação estranha, que me deixa assustada. Seriamente fico a pensar como será quando vivermos juntos. Não quero depender de ninguém, mas também quero estar com ele a meu lado. Depois de estarmos juntos, quando vai cada um para sua casa fica um vazio. Um vazio que dói. Um vazio que não quero sentir. Sinto-me sozinha, duvido das minhas capacidades e torno-me na pessoa que não quero ser. É como se ficasse sob o efeito de um feitiço. Desta vez demorou 2 dias a passar. Entre trabalho e cama, pois não tinha vontade para mais, a minha autoestima desceu imenso. De repente surgiram-me dúvidas sobre tudo e mais alguma coisa, e um medo gigante de ser abandonada e trocada por uma pessoa melhor. É um medo irracional. Honestamente é como se o meu tempo com ele fosse uma droga e quando me separo sinto os efeitos da abstinência. 

Estas sensações deixam-me perdida, em conflito com a minha forma de ser. Será que amar faz com que haja sempre uma parte de nós que será dependente daquela pessoa? Será que estou a tentar algo impossivel? Será que quantos mais anos passam mais vulneráveis ficamos, porque mais expomos sobre a nossa forma de ser? 

É que se for assim é talvez um dos sentimentos mais assustadores de sempre. E curiosamente talvez seja um dos sentimentos que mais encaramos de forma leviana (na vida real). 

24
Ago22

Desanimada


Effy_Edwards

Não sei quantos textos já escrevi e apaguei. Ando desanimada, sem vontade de ler ou sequer ver um filme ou uma série. Tenho muita vontade de escrever, pois a minha cabeça está uma turbilhão de emoções mas falta-me a força de o fazer. Sei que é normal estar assim, sei que é um sentimento que vai e volta, tipo boomerang, mas não gosto nada de me sentir assim. Como escrevi no post passado estou cansada de estar em casa, viver com os meus pais e de certa forma cansada de toda a situação à minha volta. E o problema é que não sei como resolver esta situação. Férias não vou ter, por isso resta-me aproveitar os fim de semanas e os fins de tarde para descontrair. Na minha cabeça paira uma vontade de fugir, de ir trabalhar para outro país. Talvez seja a sensação de não estar onde quero, ou de não estar a ser a estrela que pensaria que seria no meu trabalho. Passado três meses ainda estou em formação e a minha vontade era na realidade afundar-me em trabalho e receber validação através  de um "Bom trabalho, Effy", mas nao é isso que está acontecer. Tenho muito tempo para pensar agora e na realidade esse é o meu maior problema. Não consigo lidar com a minha cabeça, com os meu receios, as minhas questões e principalmente decidir-me que caminho quero seguir. Já decidi que quero esperar, mas a espera deixa-me ansiosa e com isso faz-me ter desejos impulsivos e ataques de tristeza e raiva.

Apesar de a minha vontade ser ficar na cama a comer chocolates e ver videos sem conteúdo, arrastei-me ao ginásio e agora estou-me obrigar a escrever isto. Talvez tentar ver um documentário ou ler um livro será o próximo passo. Step by step. 

Eu sei que vou ficar bem. Eu sei disso. Mas que custa estar assim custa. Além disso fico com medo, muito medo de voltar ao ponto zero deste mar negro de sentimentos.

E assim aparece a vontade de querer fugir para outro país ou fazer uma tatuagem. 

17
Ago22

Corrente de pensamentos


Effy_Edwards

Hoje estava almoçar e apesar do silêncio à minha volta, a minha cabeça estava uma agitação de pensamentos. É possivel que esteja cansada de alguém que só quer o meu bem? De que forma é que isso é justo? Como é que isso faz qualquer sentido?

O meu temperamento sempre foi muito brando. Diria que explosivo em certos momentos, mas de forma geral sou tolerante e antes de responder torto tento respirar fundo. Contudo, ando a chegar a um ponto que simplesmente não aguento mais. Honestamente nem sei como colocar isto em palavras de tão egoista e estapafúrdio que parece, mas por esse mesmo motivo é que quero colocá-lo em palavras. 

Não me recordo de quando começou. Sei que de repente, de um momento para o outro, comecei a ficar cansada de viver com os meus pais. Na verdade, agora que penso, o momento mais crítico foi quando voltei de Erasmus, em que depois de seis meses a organizar a minha vida e a viver sozinha, entrei num estado de tristeza e de irritabilidade máximo. Não me lembro muito bem como superei, mas no meio do trabalho e da faculdade, simplesmente aceitei e continuei com a minha vida. Isso foi em 2018. 

Voltando ao presente, em 2022, comecei a fazer teletrabalho em junho deste ano. Ponderei muito sobre essa questão e pensei em todos os problemas que poderiam acontecer, mas acho que substimei o facto de viver com os meus pais. Substimei o facto de os meus pais estarem em casa todo o dia e de quanto isso me iria influenciar. 

Curiosamente acho que nem na pandemia me senti assim tão irritada. Não sei se é frustração de querer ter a minha casa e de não conseguir, se é a amargura de não conseguir ter o que quero porque todo o dinheiro que poupei foi para pagar contas da casa, mas o certo é que eu não aguento mais. E não me entendam mal aqui, eu ajudei em casa porque quis, mas não deixo de me sentir injustiçada. Injustiçada no aspecto que deveria haver mais apoio para os jovens que começam do zero, mais apoio para quem tem que ajudar em casa e não tem almofadas do pais. Injustiçada quando vejo pessoas a dizer que comprar uma casa não é dificil porque nunca tiveram que dar um cêntimo para ajudar em casa. Injustiçada porque as pessoas julgam-me. Julgam-me porque sabem que tive dois trabalhos. Julgam-me porque sabem que vivo em casa dos pais, que tenho namorado e que tenho um trabalho com um salário "fixe". Então na cabeça deles não faz sentido eu estar-me a queixar, nem faz sentido eu continuar a viver com os meus pais. Mas isso é outro assunto, que também ajuda nesta receita de desastre. É ir a jantares de familia do meu namorado e sentir o corpo arder de nervos com a pergunta  "Porque é que não se juntam?". É ter o meu próprio namorado a tocar na ferida, a explicar que estou na situação que estou porque cedi. 

Cedi? Cedi a dar apoio aos meus pais, pois apesar das decisões estúpidas, eu tinha que fazer alguma coisa? Cedi a dizer que sim a muita coisa que deveria ter dito que não? Talvez. Mas eu também cometo erros, e sendo filha única que raio poderia eu fazer?

Mas voltando ao assunto anterior, não aguentar mais é na realidade um eufemismo. De tal forma, que há uma semana a única maneira de sair deste estado mental negro foi sair porta fora e ir andar a pé. E assim tem sido as minhas semanas. Entrando e saindo de uma núvem escura de pensamentos. O ginásio ajuda e o trabalho também, mas os fim de semanas são quando me sinto realmente feliz e em mim. Já ponderei se ter mudado de trabalho poderia ter uma percentagem de culpa nesta história, mas honestamente acho que não. Acho que os ingredientes desta receita de desastre são : o dinheiro e a falta dele, mentalidades diferentes e essencialmente expectativas altas.

Relativamente ao primeiro ingrediente, é basicamente alimentado por discussões diárias ou observações de como tudo está caro no supermercado. Ou seja, chega a um ponto que os intervenientes desta casa só se falam por causa de assuntos de dinheiro ou para comentar que a carne está cara e os legumes também. Quando digo falar, tanto pode significar falar num tom normal ou estar aos berros. O segundo ingrediente é o mais picante e é o que me mete mais confusão. Os meus pais são pessoas materialistas. São pessoas que estão sempre a olhar para a vida que tinham antes de 2008 e estão sempre a suspirar e a desejar que a vida voltasse ao passado. A questão é que não vai voltar atrás e eles estão perigosamente agarrados ao passado. Estão agarrados ao que tinham e ao que perderam, por isso eles não sabem viver no meio termo. Ou é para comprar tudo ou não é para comprar nada. Para eles ir à praia e levar marmita não faz sentido, ou se vai à praia e come-se num restaurante ou então mais vale ficar em casa. Eu pelo contrário sou a pessoa que entende o que é meio termo, que quando foi de Erasmus teve que cortar na comida para visitar outras cidades. Estava por minha conta, com o dinheiro que ganhava no estágio e que juntei no verão a trabalhar. Nunca mais esqueço que numa das viagens só comi sandes, e a única coisa que me aquecia era o café. Há que fazer sacrificios, contudo eles não aceitam, nem percebem. Na cabeça deles perderam tudo. E por fim, o que me afecta mais é sem dúvida as minhas expectativas, principalmente financeiras. Acho que acreditei que com este trabalho todos os problemas da minha vida iam ficar resolvidos. Ia poupar no combustivel, ia ter mais tempo livre e ia-me sentir melhor. O que temos na realidade? Uma pessoa stressada, com niveis de ansiedade a explodir, crises de humor e défice de atenção. 

Se faz sentido eu estar assim? Honestamente não sei. Gostava de ter uma resposta. Gostava mesmo muito de sair desta corrente de pensamentos, mas é tão forte que anda seriamente a mexer comigo em todos os aspectos da minha vida. Ora cria uma necessidade de me isolar a ver séries lamechas ora de conviver e beber até cair para o lado. Ora vejo o lado bom, ora vejo o lado mau. Ora acho que vou aguentar ora acho que não. Desta vez não é um comboio de pensamentos, mas sim uma corrente, que me arrasta pelo alto mar e quando penso que vou voltar a terra simplesmente embato contra rochas, que me deixam inconsciente. Quando dou fé estou novamente em alto mar, perdida, sozinha... Será a crise dos 25? 

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