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Mar de devaneios

Perdida no oceano de pensamentos, encontrei-me a mim e o que queria ser.

Perdida no oceano de pensamentos, encontrei-me a mim e o que queria ser.

06
Nov22

Vamos falar sobre casamento?


Effy_Edwards

Para mim sempre foi algo distante. Sou uma romântica nata, que fica com borboletas na barriga ao pensar em amor, mas o casamento nunca me trouxe sentimento nenhum. Era um meh. Nasci numa casa onde na realidade não me lembro de ver os meus pais felizes. O resto da minha familia também nunca teve tanta sorte. Entre divórcios e casamentos por conveniência ou deixar-se estar casado pela mesma situação, nunca tive, nem tenho alguém que eu olhe e que me pareça estar mesmo casado (como eu idealizo). Olho a minha volta e só vejo pessoas juntas porque sim. 

Quando era adolescente, lembro-me de olhar para o casamento com aversão. Dizia que que nunca iria ter filhos, nem casar. Ultimamente, com mais 10 anos em cima, começo a colocar as coisas de outra prespectiva. Quero ter algo só meu, sem ter aquele peso e impacto que eu acho que a sociedade impõe. Quero fazer as coisas a meu tempo, e na realidade, após passar uma tarde na cama a jogar pokemon united, não acho que tenha ainda a maturidade para tal.  E assim passamos a outro paradigma, quem me diz que não posso ser um adulto e gostar de jogar? Porque sinto esta vergonha de passar uma tarde a não fazer nada de jeito? 

Na verdade o casamento continua a não me dizer nada, mas, comecei a sentir aquela magia pela festa, pelo pedido. Só de imaginar um pedido grandioso, num sitio especial (sem público pf!) dá-me aquele calorzinho no peito e borboletas. Verdade seja dita que nunca fui a um casamento, por isso não sei o que é em concreto e pode ser apenas uma ideia criada pelo filmes e séries. Mas quem me conhece sabe que adoro festas, convivios e expressões de afecto e de amor em palavras.  Por isso comecei a pensar. Após 7 anos de namoro, já estou habituada a responder a essas questões, e eu dizia sempre que era um desperdicio de dinheiro. Mas depois alguém me disse: E se fizesses algo pequeno? Um jantar com os amigos e familia mais próxima. E isso deixou-me a pensar. 

Sinto que do nada surgiu um objectivo que nunca contei, e comecei seriamente  a reflectir sobre o mesmo... Ao mesmo tempo que a menina no meu coração sorri ao pensar no casamento, o meu cerébro, carrancudo e pessimista, pensa nas situações todas que isso pode levar. 

E nada como uma reflexão a um dia tão chocho, que ainda para piorar é domingo...

20
Out22

Felicidade nas pequenas coisas


Effy_Edwards

Ele veio-me buscar e fomos às compras. Chegamos a minha casa e eu preparei um lanche ajantarado. Comemos, falamos e depois fomos ver televisão no sofá. 

A coisa mais mundana possivel, mais normal de sempre. Não houve grandes gestos, não houve jantares elaborados, roupa especial. Fomos duas pessoas que arranjaram tempo uma para a outra depois de um dia de trabalho. Por momentos não pareceu a minha casa, mas sim a nossa casa. Por momentos eramos só nós, neste mundo complicado e agitado. 

07
Set22

Dependência emocional


Effy_Edwards

O amor faz-nos fracos?

Romance talvez seja o meu tema preferido de todas as histórias. Romance leva a actos gigantescos assim como desastres colossais. Adoro ver histórias de romance, adoro sentir as borboletas no estomâgo quando sinto que os protagonistas estão na face inicial da relação. Adoro aquele vai e não vai, aquela tensão no ar e acompanhar a evolução de uma relação. Honestamente gosto de pensar no romance como o enredo principal das nossas vidas. 

Contudo, nunca defendi que isso seria o que queria para a minha vida. Sempre fui apologista de relações com peso e medida, em que não há uma dependência emocional. Somos dois seres diferentes com dois objectivos diferentes, que decidiram ficar juntos. Reconheço que haverá sempre sacrificios que poderão ter que ser feitos, mas não concordo em sacrificar uma carreira profissional por um homem ou uma mulher só porque sim. Honestamente não quero, nem vou entrar em detalhes do que é o amor, porque é um tema complicado. O ponto onde eu quero chegar é a dependência emocional, é sentir que não somos bons sem aquela pessoa na nossa vida. É fechar-nos completamente num mundo só com aquela pessoa, pois já não precisamos de mais nada. É dar poder aquela pessoa sobre nós. É ficarmos submissos. 

Curiosamente, apesar de viver um vida que diria independente, em que tenho outras prioridades e outros prazeres, sou cativa desse fenómeno sempre que passo mais do que dois dias seguidos com o meu namorado num ambiente diferente. É uma sensação estranha, que me deixa assustada. Seriamente fico a pensar como será quando vivermos juntos. Não quero depender de ninguém, mas também quero estar com ele a meu lado. Depois de estarmos juntos, quando vai cada um para sua casa fica um vazio. Um vazio que dói. Um vazio que não quero sentir. Sinto-me sozinha, duvido das minhas capacidades e torno-me na pessoa que não quero ser. É como se ficasse sob o efeito de um feitiço. Desta vez demorou 2 dias a passar. Entre trabalho e cama, pois não tinha vontade para mais, a minha autoestima desceu imenso. De repente surgiram-me dúvidas sobre tudo e mais alguma coisa, e um medo gigante de ser abandonada e trocada por uma pessoa melhor. É um medo irracional. Honestamente é como se o meu tempo com ele fosse uma droga e quando me separo sinto os efeitos da abstinência. 

Estas sensações deixam-me perdida, em conflito com a minha forma de ser. Será que amar faz com que haja sempre uma parte de nós que será dependente daquela pessoa? Será que estou a tentar algo impossivel? Será que quantos mais anos passam mais vulneráveis ficamos, porque mais expomos sobre a nossa forma de ser? 

É que se for assim é talvez um dos sentimentos mais assustadores de sempre. E curiosamente talvez seja um dos sentimentos que mais encaramos de forma leviana (na vida real). 

17
Ago22

Corrente de pensamentos


Effy_Edwards

Hoje estava almoçar e apesar do silêncio à minha volta, a minha cabeça estava uma agitação de pensamentos. É possivel que esteja cansada de alguém que só quer o meu bem? De que forma é que isso é justo? Como é que isso faz qualquer sentido?

O meu temperamento sempre foi muito brando. Diria que explosivo em certos momentos, mas de forma geral sou tolerante e antes de responder torto tento respirar fundo. Contudo, ando a chegar a um ponto que simplesmente não aguento mais. Honestamente nem sei como colocar isto em palavras de tão egoista e estapafúrdio que parece, mas por esse mesmo motivo é que quero colocá-lo em palavras. 

Não me recordo de quando começou. Sei que de repente, de um momento para o outro, comecei a ficar cansada de viver com os meus pais. Na verdade, agora que penso, o momento mais crítico foi quando voltei de Erasmus, em que depois de seis meses a organizar a minha vida e a viver sozinha, entrei num estado de tristeza e de irritabilidade máximo. Não me lembro muito bem como superei, mas no meio do trabalho e da faculdade, simplesmente aceitei e continuei com a minha vida. Isso foi em 2018. 

Voltando ao presente, em 2022, comecei a fazer teletrabalho em junho deste ano. Ponderei muito sobre essa questão e pensei em todos os problemas que poderiam acontecer, mas acho que substimei o facto de viver com os meus pais. Substimei o facto de os meus pais estarem em casa todo o dia e de quanto isso me iria influenciar. 

Curiosamente acho que nem na pandemia me senti assim tão irritada. Não sei se é frustração de querer ter a minha casa e de não conseguir, se é a amargura de não conseguir ter o que quero porque todo o dinheiro que poupei foi para pagar contas da casa, mas o certo é que eu não aguento mais. E não me entendam mal aqui, eu ajudei em casa porque quis, mas não deixo de me sentir injustiçada. Injustiçada no aspecto que deveria haver mais apoio para os jovens que começam do zero, mais apoio para quem tem que ajudar em casa e não tem almofadas do pais. Injustiçada quando vejo pessoas a dizer que comprar uma casa não é dificil porque nunca tiveram que dar um cêntimo para ajudar em casa. Injustiçada porque as pessoas julgam-me. Julgam-me porque sabem que tive dois trabalhos. Julgam-me porque sabem que vivo em casa dos pais, que tenho namorado e que tenho um trabalho com um salário "fixe". Então na cabeça deles não faz sentido eu estar-me a queixar, nem faz sentido eu continuar a viver com os meus pais. Mas isso é outro assunto, que também ajuda nesta receita de desastre. É ir a jantares de familia do meu namorado e sentir o corpo arder de nervos com a pergunta  "Porque é que não se juntam?". É ter o meu próprio namorado a tocar na ferida, a explicar que estou na situação que estou porque cedi. 

Cedi? Cedi a dar apoio aos meus pais, pois apesar das decisões estúpidas, eu tinha que fazer alguma coisa? Cedi a dizer que sim a muita coisa que deveria ter dito que não? Talvez. Mas eu também cometo erros, e sendo filha única que raio poderia eu fazer?

Mas voltando ao assunto anterior, não aguentar mais é na realidade um eufemismo. De tal forma, que há uma semana a única maneira de sair deste estado mental negro foi sair porta fora e ir andar a pé. E assim tem sido as minhas semanas. Entrando e saindo de uma núvem escura de pensamentos. O ginásio ajuda e o trabalho também, mas os fim de semanas são quando me sinto realmente feliz e em mim. Já ponderei se ter mudado de trabalho poderia ter uma percentagem de culpa nesta história, mas honestamente acho que não. Acho que os ingredientes desta receita de desastre são : o dinheiro e a falta dele, mentalidades diferentes e essencialmente expectativas altas.

Relativamente ao primeiro ingrediente, é basicamente alimentado por discussões diárias ou observações de como tudo está caro no supermercado. Ou seja, chega a um ponto que os intervenientes desta casa só se falam por causa de assuntos de dinheiro ou para comentar que a carne está cara e os legumes também. Quando digo falar, tanto pode significar falar num tom normal ou estar aos berros. O segundo ingrediente é o mais picante e é o que me mete mais confusão. Os meus pais são pessoas materialistas. São pessoas que estão sempre a olhar para a vida que tinham antes de 2008 e estão sempre a suspirar e a desejar que a vida voltasse ao passado. A questão é que não vai voltar atrás e eles estão perigosamente agarrados ao passado. Estão agarrados ao que tinham e ao que perderam, por isso eles não sabem viver no meio termo. Ou é para comprar tudo ou não é para comprar nada. Para eles ir à praia e levar marmita não faz sentido, ou se vai à praia e come-se num restaurante ou então mais vale ficar em casa. Eu pelo contrário sou a pessoa que entende o que é meio termo, que quando foi de Erasmus teve que cortar na comida para visitar outras cidades. Estava por minha conta, com o dinheiro que ganhava no estágio e que juntei no verão a trabalhar. Nunca mais esqueço que numa das viagens só comi sandes, e a única coisa que me aquecia era o café. Há que fazer sacrificios, contudo eles não aceitam, nem percebem. Na cabeça deles perderam tudo. E por fim, o que me afecta mais é sem dúvida as minhas expectativas, principalmente financeiras. Acho que acreditei que com este trabalho todos os problemas da minha vida iam ficar resolvidos. Ia poupar no combustivel, ia ter mais tempo livre e ia-me sentir melhor. O que temos na realidade? Uma pessoa stressada, com niveis de ansiedade a explodir, crises de humor e défice de atenção. 

Se faz sentido eu estar assim? Honestamente não sei. Gostava de ter uma resposta. Gostava mesmo muito de sair desta corrente de pensamentos, mas é tão forte que anda seriamente a mexer comigo em todos os aspectos da minha vida. Ora cria uma necessidade de me isolar a ver séries lamechas ora de conviver e beber até cair para o lado. Ora vejo o lado bom, ora vejo o lado mau. Ora acho que vou aguentar ora acho que não. Desta vez não é um comboio de pensamentos, mas sim uma corrente, que me arrasta pelo alto mar e quando penso que vou voltar a terra simplesmente embato contra rochas, que me deixam inconsciente. Quando dou fé estou novamente em alto mar, perdida, sozinha... Será a crise dos 25? 

18
Jul22

O cancro da minha geração


Effy_Edwards

Desculpem-me a expressão, mas sinto que o dinheiro é o cancro da minha geração. Neste caso a falta dele. Com vinte anos achava que não me ia influenciar, olhava para a vida de uma forma diferente, com objetivos diferentes. Não me importava ter casa própria mas ao mesmo tempo achava que não ia estar em casa dos meus pais e a pensar diariamente em dinheiro. Mas aqui estou, quase seis anos depois a fazer exatamente o que eu nunca tinha mente: pensar em dinheiro.  Pensar em dinheiro para sair de casa, fazer as contas 1000 vezes e desistir porque a folga é pequena. Voltar a pensar e a pensar, até perder o foco da minha vida. Passar horas obcecada a ver casas, mas chegar à conclusão que não vale a pena, porque arrendar é "deitar dinheiro fora", e comprar é para já impossivel. 

Fiz tudo ao meu alcance, trabalhei enquanto estudava, fiz estágios, erasmus, licenciatura, mestrado e trabalho numa empresa que gosto. Mas simplesmente não chega. É horrivel. E sei que não estou sozinha, sei que é a minha sensação e a da maioria dos jovens de Portugal inteiro. 

Já tive dois empregos, e o que aconteceu? Pagar uma pipa de IRS e não ter tempo livre para mim. Se vale a pena? Fico na dúvida.Há dias que me apetece trabalhar até a exaustão, correr na passadeira até desmaiar. Ando cansada disto. 

Discussões de namoro porque não se concorda em arrendar, mas quer-se viver junto. Discussões com os pais porque falta dinheiro em casa. Discussões por causa do dinheiro, mesmo nos momentos mais felizes. Discussões porque se comprou a carne mais cara em vez da mais barata, porque acabou a fruta em casa ou porque se pagou uma conta em vez da outra. Discussões por frustração, cansaço e sonhos estilhaçados. 

Estou simplesmente cansada deste assunto chamado dinheiro que destrói vidas, amizades, amores e familias. 

17
Jul22

Ciúmes e as suas variantes


Effy_Edwards

Sempre me perguntei qual é a quantidade aceitável de ciúmes. Contudo, sempre vi ciúmes como sinónimo de obsessão, pose e todas as palavras que sempre identifiquei como uma bandeira vermelha numa relação. Até que me aconteceu a mim. 

Em plena luz do dia, quando dizia com orgulho que não era ciumenta, fiquei com medo de o perder. Acho que é a melhor palavra para descrever a sensação: medo de o perder.  Não é a questão do toque, não é a questão da pessoa, é sentir que naquele momento a atenção não está em mim. É sentir que naquele momento, a pessoa que eu tenho sempre em consideração, se esqueceu de mim. É sentir que eu não existo, quando estou ali. Ou seja, bem que engoli as minhas palavras e tive que respirar fundo. É irracional, não é verbalizado, mas é uma sensação que incomoda até os mais fortes. Fiquei para trás, sozinha, perdida em pensamentos, no meio do "devia aceitar" ou "devia explodir". Opto sempre pelo primeiro. Opto sempre por aceitar e afastar-me, nem que seja por breves instantes. Mas depois lá ficam os meus neurónios a chatearem-me. A questionar até que ponto é normal sentir-me assim. Até que ponto é normal eu ficar chateda por uma amiga dar o braço ao meu namorado, quando eu não o faço. Somos adultos, não somos crianças, certo?

Isso é outro factor. Sou e sempre serei uma pessoa que seleciona os seus afectos. Dar abraços sempre foi estranho, e de certa forma ainda o é, menos a ele. Valorizo demasiado o contacto fisico. Mas para ele, na realidade nunca percebi qual é a abordagem. É tudo um questão de percepções e de sensações. 

A conclusão que eu adquiro destes momentos é que me incomoda, severamente. Mas não tenho coragem, nem acho que faça sentido verbalizar. Por isso aqui fico, a processar, a escrever e a entender qual é o tipo de variante que me afecta desta doença que afecta todos os apaixonados, chamada "ciúmes". 

07
Jul22

Comboio de pensamentos


Effy_Edwards

Há uns meses deixei os meus dedos fluir numa viagem de comboio, no bloco de notas do telemóvel. Deixo aqui um excerto: 

Se toda a gente olhasse para o mundo desta forma. Se nao houvesse ganância, inveja, miséria. A propria vida ja prega tantas partidas. Já separa tanta gente por causa das horas erradas.
Mais um dia, rotina igual, trabalho diferente. Apesar de tudo, todos os dias são diferentes. Pessoas diferentes no comboio, roupa diferente e uma nova oportunidade. A vida deixou de ter objectivos tão lineares. Ter uma casa, ter um carro passaram a ser menos alcançáveis do que ter 20 num exame.
É esta a geração dos jovens dos 20 anos. Perdidos entrer o querer e o dever, perdidos entre viver a vida e ajudar os que ficaram para trás. Geração rasca? Geração da felicidade? Está tudo tão misturado. Está tudo tao complexo.
Um pessoa pega no telemóvel e tudo é tão contraditório. Trabalha dois empregos, aprende novas linguas, despede-te, faz um negócio, elimina as pessoas tóxicas da tua vida. Mas se no meio disso tudo ficares doente mentalmente desiste de tudo e foge da realidade. Ou entao aguenta e tem força mental para aguentar tudo. Até que ponto? Qual é o limite do máximo?
- Qual é o limite do máximo? - questionou sentada na sofá de pele.
- É aquele que definir para si. - explicou a psicóloga olhando para ela
Revirou os olhos.
"O que eu gosto em ti é que és forte" dissera-lhe a mãe de manhã.
Forte? Chorava quando estava sob stress, ia para a casa de banho metia a cabeça para baixo e chorava que nem uma criança. Forte? Tinha 25 anos e vivia em casa dos pais, nao cuidava de nada. Forte? Aguentou ter dois trabalhos, e um trabalho enquanto estudava. Mas é mesmo isso ser forte? E o impacto negativo que isso teve na sua vida? As dores nas pernas, as espinhas do stress. Suspirou.
-Leonor, tem que me dizer o que acha para eu conseguir ajudar. Esteve calada a maior parte do tempo.
Ela olhou para a psicologa e pressionou o peito, que estava tão vermelho de ser esfregado.
- Não sei doutora. Acho que a forma como as pessoas me vêm não corresponde à forma que me vejo a mim. - olhou para baixo - preocupei-me tanto em ser amada por todos que me perdi no queria ser. Ser boa aluna? Feito. Ajudar os pais nas dificuldades financeiras? Feito. Aproveitar a vida como uma jovem de 20 anos? Feito. Estar sempre presente apesar de às vezes estar a morrer por dentro? Feito. Depois olho para trás e pergunto, sou mesmo essa pessoa? Ou sou o resultado de vários desejos de pessoas diferentes? - parou e olhou para a perna a tremer. - Adoro ter pessoas à minha volta. Adoro sentir que sou amada. Adoro estar em festas com pessoas que me dão atenção. Adoro isso. Tenho muitos amigos, e tento a todos dar atenção, mas depois perco-me. Na minha relação enquanto filha. Na minha relação enquanto namorada. Mas isso é outro problema. Há casais que estao sempre juntos. É suposto ser a assim doutora? É suposto só olhar para aquela pessoa? Ou é normal achar outras pessoas atraentes à nossa volta? Porque eu acho, e acho normal. Mas a sociedade é tão opressiva. Só deves olhar para o teu parceiro. Eu acho tão mais complexo a ideia de pensar que ele olha para outras pessoas, melhores que tu, mas todos os dias  te escolhe a ti e tu a ele. Isso é tao mais bonito que meter palas nos olhos. Porque a realidade é que vai haver pessoas mais bonitas, pessoas que irão dar mais atenção, que vais passar mais tempo e no fundo até vai haver pessoas em que o teu corpo e o delas são um match a nivel biológico. Mas isso significa que as vais escolher? Não. Metes o teu coração e a tua vontade em conflito. Tu desejas aquela pessoa, sentes a tenção no ar, sentes todo aquele ambiente à tua volta, mas o teu coração chama-te atenção. É so instinto, pensas. É só uma atração aleatória. E escolhes o teu parceiro repetidamente todos os dias. Mas isto é tao contraditório certo? O que nos ensinam nas series? Nos filmes? Só temos que ter olhos para o nosso parceiro. Se olharmos para outros é porque temos que acabar e ser solteiros. Mas porquê? E quem será que está certo? Eu? Eles? É tudo tão complexo. É tudo tão agitado. Às vezes só me apetecia fugir. Começar do zero. Dizer a todo o mundo que já não me chamava Leonor e ser outra pessoa. É esgotante e tenho tanto medo de cometer erros. A decisão de ir ao café em vez de ir ao ginásio pode alterar tudo. Um simples atraso, uma simples roupa. Tudo isso pode alterar a minha vida para pior ou para melhor e condiconar-me para sempre. Isso nao é stressante? Como vivemos com isso? Como aguentamos a pressão e a indecisão doutora?
Como aguentamos tudo que esperam para nós e no fim não é quem queremos ser. Quem queremos ser na realidade?

07
Nov21

Devaneios de um quase quarto de vida


Effy_Edwards

De repente senti tudo à flor da pele. Senti falta do nosso sofá. Daquele que nunca tivemos. De te fazer waffles de manhã e de viver no mesmo espaço que tu. Senti falta. Muita falta. De algo que nunca tive, mas algo que me sinto incapacitada de ter. Senti falta do nosso espaço, de não ter que ficar no carro e ter que dizer boa noite.

De repente tudo me bateu. A minha idade. O que sou e o que não sou. Sou nova, mas assim tão nova. Tenho tempo, mas assim não tanto. Ganho bem, mas assim não tão bem. Estou bem, mas assim não tão bem.

Sinto-me afundar. Lentamente, cada vez mais, cada vez menos. E sempre que penso que me vou safar é quando as coisas pioram.

Ao mesmo tempo sinto-me mal. Não passo fome. Não estou mal. Mas queria o que queria. Queria conseguir o que quero, o que sempre quis. A minha independência. E custa tanto.

Quando estudava, era porque estudava. Agora que trabalho, parece que nunca vejo alívio. As contas da casa são demais. Sempre que penso que vai ser este mês a melhorar é algo que avaria. É o meu carro que deixa de funcionar, ou a água quente que acaba. 

Tenho direito a ficar cansada? A chorar? Tenho direito a querer algo mais? Ou estou simplesmente a ser ingrata?

É tão fácil as pessoas comentarem. É tão fácil perguntarem porque é que dois adultos com trabalhos aparentemente estáveis ainda vivem com pais. Mas não sabem todo o resto. 

Não sabem que os pais dela não têm rendimentos suficientes.  Não sabem o quanto ela se debate diáriamente sobre até que ponto é "ser boa filha". As pessoas não sabem. Não imaginam. Ainda comentam "um dia saberás quando pagares as tuas contas" ou "deves ter muito dinheiro poupado". 

Dito isto, não sei se é a crise de um quarto de vida a chegar, ou se os vários copos de licor beirão, mas o certo é que esgotei a força mental de me conter. E o pior é que hoje é domingo...

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