Crónicas sobre ansiedade
Effy_Edwards
Sempre pensei que tinha atingido o cume da ansiedade na faculdade. Era trabalho, estágio e mestrado. Era uma loucura sem fim. Eram fim de semanas fechada num centro comercial a trabalhar no meu part-time e muitas vezes durante a semana, entre trabalho e estágio, trabalhava das 7h às 23h e ainda tinha que estudar, fazer trabalhos ou, mais tarde, escrever a tese. Era puxado, e por vezes a ansiedade batia-me à porta. De tal forma que me imobilizada. Nunca mais esqueço da primeira vez que isso me aconteceu, estava num shopping e tinha planeado ir ao cinema com o meu namorado e depois fazer um trabalho ou estudar. Tinha tudo planeado na minha cabeça. Contudo houve um problema e tivemos que ir à sessão seguinte. Em vez de cancelar, teimei que queria ir e de repente estava imóvel. A ansiedade de saber que estava a perder tempo era tão grande que de repente não conseguia reagir. Isso foi há cerca de uns 3/4 anos. Pensei, honestamente, que isso seria o pior. Mas como já devem calcular não foi.
Passado uns 2 anos, estava num bom trabalho, mas sem muitas perspectivas de crescimento, no ramo da logística. Era stress constante, eram deadlines para cumprir e muitas urgências que tinham que ser resolvidas durante férias, ou depois do horário de saída. Eu adorava o que fazia e a minha equipa, mas a minha ansiedade andava a tramar as dela. Adorava conduzir. Adorava andar de um lado para o outro, a ouvir música e a cantar. Até que tive um acidente de carro. Apanhei óleo na estrada e estraguei a frente do carro. Não foi nada de especial, mas durante mais de um ano não consegui conduzir normalmente. Ainda hoje, se estiver muito stressada, ou cansada, custa-me conduzir. O meu cérebro pensa constantemente que vou morrer. Que vou perder a visão, os sentidos e ter um novo acidente. Contudo, como devem calcular, isso também não foi o pior. Entre ataques de pânicos pontuais, conduzir a 70km/h numa auto estrada e procurar apoio psicológico as coisas foram melhorando.
Este ano, a ansiedade decidiu aparecer de mansinho, como quem não quer a coisa. Desta vez com as piores torturas de sempre. Decidiu lembrar-me que eu já devia ter dinheiro para a entrada de uma casa, e tenho que o fazer agora. Decidiu culpar-me de todas as decisões e mais algumas, e espetar-me um punhal no peito sempre que penso nisso. Dói, muito. Além disso, gosta de me lembrar que todos os cêntimos contam. Tudo conta. “Devias estar a fazer dinheiro em vez de estar a ver uma série”, “Devias estar a ver casas em vez de estares aqui”. Entretanto fico em modo batata a ver reels no instagram, ou então vou trabalhar. O meu porto de abrigo é o meu trabalho. É quando me sinto útil e realizada. Entretanto um novo trabalho, em que adoro o faço, mas também tem momentos difíceis. Desta vez não são urgências, mas situações ingratas entre colegas, situações que mexem comigo a nível psicológico, mas que honestamente tento ignorar. Um destes dias estava num táxi para o aeroporto e pensei que ia morrer, a ansiedade era tanta que eu pensei que ia desmaiar e morrer. Sei que parece ridiculo e eu sabia que aquilo era ansiedade, mas o meu peito ardia com a dor e a falta de ar. É algo surreal. O taxista conduzia mal e eu estava muito longe de casa, contudo não era razão para tal. No outro dia estava a trabalhar, e o assunto das casas passou-me pela cabeça e o meu coração começou acelerar, como se estivesse a correr a maratona. Há dias que nem me passa nada pela cabeça, mas a vontade de fugir e chorar é tanta que só não o faço porque me refugio a ver coisas aleatórias na internet. Há dias que nem falar direito consigo, de tão modo batata me encontro. Contudo hoje consegui escrever, e já me sinto feliz por isso.
Inocente era eu quando pensei que a ansiedade ia ficar por ali...